domingo, 7 de dezembro de 2014

PAPEL DE EMBRULHO

Paulo Antônio

Eu estava no Mercado do Bairro de Santo Antônio – pra comprar peixe, quando apareceu um conhecido meu e falou o meu nome em alta voz: “Ei Paulo Antônio, eu gostei muito daquela matéria que tu fizeste do professor Joãozinho sobre os lápis encalhados do Turiba. Eu não perco nenhum sábado de comprar o jornal o Candiru. Eu li todas as histórias que tu fizeste dos amigos do bairro da Colônia.”


E nessa hora chegou perto de mim um cidadão e falou assim: “Prazer em te conhecer!” E perguntou se eu podia falar com ele em particular. Eu disse que não tinha problema. Aí nós fomos pra frente da Drogaria que fica em frente do mercado. Ele falou: “Senhor não se assuste, eu só quero lhe agradecer pela sua matéria que você fez sobre o professor Joãozinho no jornal o Candiru, porque essa matéria que você fez do professor Joãozinho me fez chorar. Porque chorei? Porque me lembrei do que ele fez por mim, na minha juventude, se não fosse ele hoje eu não estaria onde estou. Ele me ajudou muito nos meus estudos, na minha juventude. Na faixa dos 9 a 10 anos, eu não me lembro muito, eu era de família pobre, morava com os meus pais na casa da minha avó que era coberta de palha e eu dormia no chão em cima de uma saca de sarrapilha. Quando amanhecia , minha mãe fazia o chá de capim santo pra gente tomar com pão torrado que o finado velho Américo dava pra nós. Aí eu pegava a minha caixa de isopor e ia no Manel Lelé pra pegar picolé pra vender pra ajudar meus pais. Eu vendia no Mercado central do barro da Colônia e Jauary. Quando eu fui para o colégio estudar, eu olhava pros meus colegas, todos estavam bem vestidos e eu com uma camisa toda remendada, assim como o calção e os pés descalços. Foi aí que apareceu o professor Joãozinho na minha frente e falou pra mim: “Você quer estudar de verdade? Aí eu falei pra ele: “O meu pai e minha mãe disse pra mim que se eu não estudar, eu vou ser um burro de carga.” Aí o professor olhou pra mim e falou: “Você não vai ser um burro de carga porque eu vou te ajudar , você vai ser um doutor ou um advogado.” E eu agradeço ao professor Joãozinho. Hoje eu tenho um bom salário e moro em Manaus, graças a Deus e ao professor Joãozinho, eu tenho um lar de primeira qualidade. Na época, meus pais não tinham como comprar caderno pra mim, o finado velho Américo, me dava umas folhas de papel de embrulho que era o meu caderno de todos os dias.” 

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