domingo, 7 de dezembro de 2014

VAMOS COMEÇAR UM BALANÇO DE 2014

Robert Langlady Lira Rosas*

Final de ano se aproxima e todos nós, cidadãos e cidadãs itacoatiarenses, devemos avaliar, cobrar e propor metas para a melhoria de nosso município. Como se trata de uma atividade ampla e complexa, proponho que comecemos pelos itens mais gritantes:

1. O que se fez até agora para garantir o atendimento de crianças de 4 e 5 anos em creches? Essa é a meta nº 1 do novo Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei 13.005, de 25 de junho de 2014, e que estabelece 20 metas a serem cumpridas de forma colaborativa no prazo de 10 anos. O atendimento para todas as crianças de 4 e 5 anos em creche deve ser feito até 2016. Faz tempo que isso vem sendo debatido no Brasil inteiro e pouco ou quase nada se fez em Itacoatiara. Olhando para nosso município, o que vemos é o descaso com as poucas creches que iriam ser construídas com recursos do governo federal, através de um programa chamado Proinfância. O prefeito atual acusa o prefeito anterior de não deixar os recursos suficientes; o prefeito anterior, por sua vez, desmente isso e apresenta seus argumentos. Resultado: quem perde é a população, são as mães, as crianças, as famílias que perdem o direito assegurado de terem suas crianças iniciando mais cedo a escolarização, o que garantiria maiores oportunidades de sucesso e de inclusão social quando estas crianças se tornarem adolescentes. A mesma desatenção poderia ser apontada em relação à construção das quadras escolares, que se constituiriam em espaços para os jovens praticarem esportes e atividades culturais, algo fundamental no desenvolvimento integral de quaisquer cidadãos. Isto para não se falar no baixo rendimento dos alunos das redes públicas no município (tanto estadual, quanto municipal) manifestado no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB. Para se ter uma ideia da má gestão na educação pública no município, desafio qualquer gestor a provar publicamente que cumpriu o mínimo de 200 dias letivos, previstos na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. São feriados, pontos facultativos, suspensões de aula injustificadas legalmente, envolvimento de gestores em campanhas eleitoreiras, descumprimento dos calendários letivos e escolares, sobretudo na zona rural. Tudo isso contraria os direitos de aprendizagem dos alunos de nossas escolas públicas, que vão acumulando défices incompensáveis.  

2. O que se fez até o presente momento para minimizar o problema de falta de energia elétrica em nosso município? Nada, a não ser a tentativa de se buscar culpados, quer se trate de gestores passados, quer se trate de culpar o governo estadual, que por sua vez culpa o governo federal e assim vai se proliferando uma cadeia de incompetência na gestão pública, deixando a população no padecimento e diminuindo o potencial econômico do município.

3. Quantos empregos foram verdadeiramente gerados em 2014? O que se fez em termos de agricultura familiar, agronegócio, regularização fundiária, planos de manejo, fomento, pesquisa e assistência técnica aos produtores rurais, recuperação de estradas vicinais e otimização da produtividade? Estamos no século 21 praticando um modelo administrativo do século passado, em que os maus gestores sempre encontram opiniões para culpabilizar gestores anteriores pelo que estão deixando de cumprir.  Gestão pública se faz com transparência, competência técnica e ético-política. É preciso fazer um balanço do desenvolvimento (ou não) de Itacoatiara, a fim de que possamos desenvolver um modelo econômico, educacional, político alternativo ao que aí está posto. Atribuo Isto tudo à baixa capacidade de resposta da administração pública no atendimento das demandas da população que acabei de expor. É imprescindível buscar formas inovadoras de governança no setor público, construir novos mecanismos de pilotagem das políticas públicas locais; construir um “painel de bordo” municipal que defina quais os problemas que mais afetam a população a curto, médio e longo prazos. Além disso, e sobretudo, definir bem os mecanismos de participação dos cidadãos nos processos de decisão municipal e em que medida a participação destes pode influenciar as decisões tomadas pelos detentores do poder. Deixar de fazer isso e ficar procurando culpados, como diz um amigo meu, “não é de Deus, é do capeta”.

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 * Robert Langlady Lira Rosas é professor do Departamento de Língua e Literatura Portuguesa – DLLP, da Universidade Federal do Amazonas - UFAM. É coordenador do curso de Letras (Língua Portuguesa noturno) e do Parfor Letras Língua Portuguesa. 

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